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sexta-feira, 28 de junho de 2013

O problema da materialização da moral

Al Capone, um dos mais bem sucedidos mafiosos de todos os tempos. Será que a imoralidade de Al Capone era um fruto meramente econômico? Ele não parecia muito necessitado.



Um dos maiores problemas da Esquerda e do pensamento revolucionário bem como da própria ideologia da luta de classes é desconsiderar as razões imateriais morais e espirituais dos problemas humanos, dos conflitos internos e da própria moralidade. Justificando todos os desvios humanos, todos os erros, vícios de comportamento e desvios de conduta como mera consequência de problemas econômicos e diferenças sociais, a ideologia de classes desconsidera o mal pelo simples mal, sempre atribuindo-lhe uma causalidade palpável.



É inegável que as diferenças sociais e econômicas, bem como todo o tipo de exploração humana, causam sim males, criminalidade e comportamentos errados. Entretanto, resumir a questão a uma simples condição material é superficial, injusto e extremamente simplista. Não são exceções as pessoas que possuindo uma renda baixíssima, apresentam um comportamento moral e ético muito superiores à diversas pessoas que possuem toda a sorte de bens muito acima de suas necessidades. Isso prova que, apesar de muitos males serem sim causados pela desigualdade, a classe social e o patamar financeiro não são fatores determinantes para a moralidade de um indivíduo.


Atribuindo ao homem mero papel passivo de coadjuvante na Natureza e na própria sociedade, a ideologia da luta de classes o coloca como um incapaz, uma eterna vítima das circunstâncias e das necessidades pessoais, que quando não atendidas, dão vazão a todo o tipo de mal comportamento e desvio de caráter. É o pensamento meramente determinista, onde o ser humano é um mero produto de seu meio, a somatória dos resultados das diversas casualidades ao seu derredor.


O ladrão que rouba, o faz por que não possuiu condições econômicas de conseguir aquele bem. Logo, ele não pode ser considerado um criminoso, e sim um injustiçado social, que ao ser privado do seu direito nato de obter tudo o quanto desejar, age legitimamente tomando os bens de seus opressores sociais. A sentença que acabou de ser dada soa absurda para as pessoas com um mínimo de moralidade, mas é o padrão de pensamento da Esquerda.


Aqui, as razões são dadas em algumas possíveis explicações: o ladrão foi impedido de ascender ao mercado de trabalho, e portanto, precisou recorrer ao crime. Ou, outra possível explicação, é o fato de que simplesmente uns possuem mais que os outros e isto é injusto por si só. Esquecem de levar em consideração que a maioria dos que recorrem ao crime o fazem por opção pessoal, mesmo que consigam uma segunda chance no mercado de trabalho. Esquecem também que o esforço das pessoas é desigual. Será que um indivíduo que não exerce atividade alguma merece tanto possuir um automóvel quanto um trabalhador honesto, simplesmente para que se faça "igualdade social"? A igualdade social pregada pela Esquerda nada mais é do que uma desigualdade que desconsidera as proporções de trabalho e esforço, meramente alinhando todos em um mesmo nível, mesmo que seus esforços, capacidades e contribuições sejam extremamente desiguais.

A questão dos menores infratores é um dos maiores exemplos da leniência ao crime e a eterna infantilização dos infratores. Não seria muito mais benéfico tratá-las como capazes pelos seus atos, punir seus crimes e ao mesmo tempo tentar oferecer alternativas? por que o antagonismo é necessário? Por que a Esquerda se beneficia tanto do crime quanto da impunidade do mesmo.



O problema de tratar todo o crime como mero resultado de uma desigualdade social é tratar toda a vítima de crime como um "opressor", invertendo a situação, colocando a vítima como culpada e o culpado como vítima. A maior vítima de crimes urbanos, da violência direta e de suas consequências, é justamente o trabalhador comum, o cidadão pobre ou de classe média. Justamente estes que possuem poucos bens, e precisam equilibrar o próprio orçamento para manterem a mínima qualidade de vida. Os muito ricos conseguem meios próprios para aumentarem sua segurança, e mesmo assim, nunca estão imunes a ela. E os justamente opressores, a casta política, se mantém inacessível, intocável e plenamente cercada de seguranças. Logo, seria um tanto quanto ilógico dizer que os criminosos atacam seus opressores, ou será que o cidadão pobre que simplesmente quis andar com dinheiro a mais para comprar algo para si é um opressor?


A ideologia de classes, ao mesmo tempo em que se beneficia da "defesa" da classe trabalhadora, se beneficia de sua exploração, condenando-a como própria opressora e colocando-a abaixo do nível dos próprios criminosos. Os crimes tem uma forte motivação moral, ou seja, independente daquilo que o criminoso conquiste ou possa conquistar, ele continuará cometendo crimes não por que é uma mera vítima das ocasiões, mas sim por que sua moralidade deturpada o faz justamente se aproveitar delas. O político não deixaria de ser desonesto por ser pobre, e nem o pobre desonesto deixaria de ser imoral apenas por galgar patamares sociais maiores, simplesmente por que a moralidade do ser humano não está intrinsecamente ligada aos bens materiais. Mesmo que haja cobiça e desejo, o grau de moralidade do indivíduo não está intimamente relacionado a isto, e sim a seus princípios interiores.


A moralidade do criminoso não é a mesma moralidade do indivíduo honesto. Julgar ambos pelo mesmo nível moral é no mínimo injusto. Ao passo em que o cidadão de bem consegue distinguir e separar suas próprias coisas, seus próprios bens, seu próprio espaço, e limitar seus direitos e os direitos dos demais, o criminoso não distingue o que é seu daquilo que é dos outros, vendo tudo como propriedade sua; expande seus direitos infinitamente e reduz os direitos dos demais além de negligenciar a sua própria vida e a vida dos terceiros, em uma irresponsabilidade e um desdém pela vida humana desmedidos.


E muitos deles, ao experimentar um padrão de vida melhor, não cessam de cometer as injustiças apenas por que conseguiram suprir seus desejos. Pelo contrário, eles ampliam suas atividades criminosas. Exemplos mais nítidos são os narcotraficantes extremamente ricos, que não obstante gastam seu dinheiro com imóveis e carros de luxo, bens de alta qualidade, investem em armamento e na ampliação de suas atividades. Ora, se a questão é meramente material, ao ascender a patamares maiores o indivíduo deveria miraculosamente se tornar um sujeito moral. Isso não ocorre por que sua imoralidade e a distorção bizarra de seu caráter acompanham todos os níveis de sua vida, mesmo que ele alcance patamares maiores. Assim como o indivíduo com um caráter estruturado, mesmo que perca uma fortuna, não cometerá crimes se decair de nível social.


Colocando os crimes meramente como consequências da desigualdade, a Esquerda impõe leis cada vez mais frouxas, vazias e superficiais, visando justamente penalizar o menos possível o indivíduo que comete crimes, não enxergando-o como culpado mas sim como vítima de todo um sistema opressor. A explicação mais comum é a de que a "violência não se resolve com violência", e que leis mais severas não resolvem problemas sociais que seriam simplesmente resolvidos com maior investimento em todos os serviços essenciais.


O fragmento de lógica nesse pensamento é suficiente para ludibriar a todos de que, como leis mais severas não resolvem o problema, devem ser descartadas. A lógica de Esquerda impõe a impunidade e a leniência ao crime como o modo correto de lidar com as questões sociais da ilegalidade, e sobrepõe à população sua completa entrega ao crime, deixando o cidadão desprotegido e impedindo que ele se proteja, não oferecendo apoio algum às vítimas e muito menos tentando sequer ajudá-las a superar os traumas dos crimes cometidos, se importando muito mais com o apoio, a pseudo recuperação e a logística dos criminosos. Os "defensores do proletariado" são os maiores carrascos dos próprios trabalhadores, impondo um ambiente de violência, justificando esta violência e acobertando os criminosos. Tudo com o pretexto de "justiça social" e "tratamento humanizado".


A necessidade a longo e médio prazo da melhoria das estruturas sociais, dos serviços, da maior oferta de empregos e da promoção da ascensão social através de maior qualificação profissional e educacional não eliminam a necessidade urgente de punição, justiça às vítimas e de melhor estrutura policial e prisional. A necessidade de oferecer um contexto social melhor não deve ser pretexto para eliminar leis mais severas, punições mais justas e maior qualidade prisional.


Como que entregando animais a um holocausto sacrificial, a Esquerda reduz todas as questões problemáticas a uma mera questão financeira, negligenciando e sacrificando os trabalhadores e os mais pobres, justamente as maiores vítimas dos crimes. Sem contar que inúmeros criminosos atuam em ramos que exigem alta soma de dinheiro, como as quadrilhas especializadas, que conseguem veículos de fuga, armamentos sofisticados e até mesmo subornar pessoas dentro das polícias para obterem informações. Estes criminosos por acaso são "vítimas" do sistema opressor?


A negação de uma moral suprema e até mesmo da espiritualidade transcendental coloca o ser humano preso à suas próprias necessidades, como escravo das mesmas, e não senhor delas. Animal incapaz de pensar por si e seguir uma ética, podendo cometer as piores atrocidades para obter o que deseja, justificado em seus atos pela necessidade ocasional. Tratar o crime como mera consequência financeira é desumano, bizarro, anti ético e imoral.


Devemos construir todo um tecido social que acolha o indivíduo da melhor forma possível, sem assistencialismo barato e sem a justificação dos crimes. A união de leis severas e do direito a autodefesa com melhorias em toda a estrutura de serviços deve ser uma política conjunta, e não um antagonismo de uma luta entre si. Tratar os criminosos como meros pobres coitados vítimas das consequências, é tratar o próprio ser humano como um incapaz de mudar seus atos e agir por si mesmo.


A Esquerda revela que na verdade, seu suposto zelo e valor da classe trabalhadora e dos mais pobres, nada mais é do que um preconceito altamente desenvolvido e mascarado, onde tratam esta mesma classe como animais incapazes de agirem por si, vítimas acéfalas do sistema corruptor, seres subdesenvolvidos que devem ser eternamente tradados como crianças incapazes e dependentes da leniência e do assistencialismo estatal, das inúmeras esmolas e compras de voto, por que como incapazes que são, não conseguirão andar com as próprias pernas. Essa é a verdadeira visão da Esquerda em relação às pessoas de classes sociais mais baixas: eternas crianças incapazes, dependentes e infelizes, vítimas - e não construtoras - do meio social.


Ao mesmo tempo em que se beneficia da exclusão econômica para justificar os crimes, a Esquerda se beneficia da ganância humana e do desejo de consumo para justificar o comportamento daqueles que, mesmo ascendendo socialmente, permanecem no crime. Acontece que se a ganância é algo naturalmente humano (já revelado muito antes mesmo do desenvolvimento do processo natural do capitalismo), então o ser humano não pode ser tratado como vítima ou como um ser naturalmente inocente. Aqueles que mesmo em um patamar maior permanecem no crime, não o fazem meramente pela ganância de desejar mais, já que isso facilmente é injustificado pelo simples fato de que há inúmeras possibilidades não criminosas de aumentar seu patrimônio e sua riqueza. Isso acontece em muitas vezes, pelo simples prazer que a atividade criminosa proporciona, sendo ela um fim em si mesma, e não um meio para se obter os objetos de desejo.

Uma visão possibilista enxerga o ser humano como capaz de construir o seu próprio meio, e não como mera vítima ou produto desse meio. Assim devemos enxergar os pobres, como capazes de se elevarem, se erguerem e alcançarem patamares maiores, e assim devemos enxergar os criminosos: seres conscientes de seus erros, e como tais, devem pagar pelos mesmos. As chances a estas pessoas devem ser limitadas, por que suas vítimas possuem apenas uma vida, e aqueles que morrem por suas mãos não terão uma segunda chance.


A moral jamais deve ser restringida ao que temos ou ao que deixamos de ter, e sim naquilo que somos, no que desejamos nos tornar e como desejamos contribuir para com a sociedade, qual o legado que desejamos deixar para as gerações posteriores e como gostamos de tranquilamente conviver com nossas consciências, seguindo um conjunto não subjetivo, mas objetivo e esclarecido de valores morais e éticos, nos quais nossas ações devem ser pautadas, e não meramente na necessidade e no desejo momentâneos.

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