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terça-feira, 20 de agosto de 2013

A Revolução Francesa: Obscuridade travestida de luz

Queda da Bastilha, em 14 de Julho de 1789: evento considerado um marco do início do período revolucionário na França.



Talvez não exista episódio mais romantizado e superestimado na história da França do que a tão famigerada Revolução Francesa. Ensinada nas escolas como um "marco da racionalidade" e uma vitória da laicidade sobre a teocracia degenerada, essa fase da história francesa é continuamente deturpada e apresentada com uma roupagem humanista, libertadora e racional, um triunfo do saber, da razão e da lógica acima do misticismo religioso. Entretanto, terá sido mesmo a Revolução Francesa um episódio do qual devamos nos orgulhar ou apresentar como um triunfo da racionalidade, do humanismo e do laicismo estatal?


Havia uma intensa ligação recíproca entre Igreja e Estado, no período determinado. A França enfrentava problemas históricos, mais especificamente, ligados à distribuição de terras e as heranças dos meios feudais de relação e interação entre os donos e os trabalhadores dessas terras. A situação social na França da época não era das melhores. Entretanto, o problema francês jamais foi o modelo de governo ou qualquer ligação com a Igreja (esta mantinha-se como a maior instituição de caridade e de trabalhos sociais à época), e sim, de má administração e de medidas inapropriadas tomadas pelo rei Luís XVI e sua aristocracia. As históricas guerras e rivalidades com a Inglaterra contribuíram também para esse quadro. 



Entretanto, o foco tão habitual nestas causas desvia a análise dos meios, repercussões e modos da operação da Revolução Francesa, e são exatamente nestes pontos que iremos focar. O evento foi movido, basicamente, pelo ressentimento e pelo desejo da tomada de poder. Longe de ser um evento legitimamente popular, a revolução foi encabeçada por indivíduos com propósitos claros de tomada do poder através de meios revolucionários violentos, com justificativa na histórica "exploração" vivida na França. E a maior destas cabeças foi Robespierre. Advogado e político francês, ele seria denominado, posteriormente, como governante da França.


Um dos maiores motes de tal movimento foi a luta contra a aristocracia, a influência da Igreja no Estado e os próprios ideais e instituições tradicionais e conservadores. A secularização do Estado e a retirada da influência religiosa eram motes que regiam os direcionamentos do movimento. Entretanto, o que pouco se sabe, é que tal secularização manifestou-se tão unicamente no combate violento ao Cristianismo. Uma religião "secular" foi instituída em lugar do Cristianismo, e retirando-se a Igreja, foi criado um culto oficial do Estado em torno do próprio Robespierre. O então chamado "Culto da Razão" (Culte de la Raison) endeusava uma divindade em forma feminina, a "deusa da razão". Uma seita fundamentalmente ateísta e cética, com paramentos, celebrações, datas, "liturgias" e demais manifestações religiosas. Os templos cristãos foram deformados e transformados em centros de culto à deusa da razão.



Joseph Fouché, um dos mentores do "Culte de la Raison"

Os principais mentores da nova religião foram os líderes revolucionários Antoine-François Momoro, Joseph Fouché, Jacques Hébert e Pierre-Gaspard Chaumette. Atenção especial pode ser concedida a Joseph Fouché. Os claros ideais de ódio ao Cristianismo em sua essência encontraram enorme vazão através dos atos de Fouché. Ele empregou modos especialmente violentos no processo de descristianização da França, chegando a ordenar a destruição e remoção de crucifixos onde quer que estivessem, incluindo os crucifixos dos túmulos nos cemitérios - ordenando, inclusive, a inscrição da frase "A morte é um sono eterno" nas entradas dos cemitérios - como também de locais religiosos sagrados, isto quando não havia subversão destes locais em "templos da razão", como aconteceu com a catedral de Nossa Senhora do Estrasburgo.



Se o objetivo era o laicismo do Estado e a secularização social, por que então os revolucionários franceses criara uma seita de endeusamento físico à racionalidade, tornando essa seita na "religião oficial do Estado"? Por que, claramente, seu objetivo jamais foi a secularização da França, ou a permissão do livre culto religioso, mas sim na destruição completa do Cristianismo, de suas influências, de suas instituições e sua completa substituição por um culto paganista. Basicamente, retirar a influência do clero cristão e da religião cristã e instituir o "clero e a religião revolucionários". A população francesa foi coagida a este novo culto nacional, que, através do subterfúgio do valor à racionalidade, instituiu uma religião e uma adoração em torno dos líderes revolucionários. 


Uma enorme censura e proibição às artes, manifestações e celebrações cristãs foi realizada como política da Revolução Francesa, manifesta também em uma violenta coerção da população francesa em torno do Culte de la Raison. Outro secto que foi colocado como substituição ao Cristianismo foi o Culte de I'Être Suprême (Culto ao ser supremo), usado até mesmo como substituição ao Culte da La Raison, atuando como religião estatal oficial. O "culto ao ser supremo" possuía um aspecto muito mais "espiritual" do que o "culto da razão": o culto a uma divindade suprema e o reconhecimento da imoralidade da alma humana. 


Quadro representando a "Fête de I'Etre suprême" (Festa do Ser Supremo), celebração do Culto ao ser supremo, religião estatal instituída por Robespierre em substituição ao "Culte de la Raison", como resultado das duras críticas que o próprio Robespierre fez ao culto inicial à razão, rejeitando os simples pontos deístas voltarianos.

Acreditava na existência de uma divindade, e no sentido de um código moral a ser seguido, criando toda uma moral cívica em seu redor, baseando-se em princípios greco romanos. Possuindo algumas familiaridades com a doutrina cristã, o "culto ao ser supremo" encontrou maior aceitação, contudo, sem abandonar o aspecto extremamente anticristão (na catedral de Clermont-Ferrand, a inscrição "O povo francês reconhece a Divindade Suprema e a imoralidade da alma" foi fixada). Este culto seria um dos motivos para a posterior execução de Robespierre. 


Os efeitos da Revolução Francesa não foram apenas religiosos e espirituais, mas também sociais e econômicos. Se o rei guilhotinado Luís XVI fracassou em promover reformas tributárias, os revolucionários não fizeram melhor trabalho no campo da economia francesa. As crises agrárias foram agravadas, houve um enorme desgaste do Tesouro Nacional e os sistemas de trabalho coletivo foram ineficientes e inadequados, além da má administração realizada. 


A política foi extremamente afetada. A queda da monarquia deu lugar a regimes posteriores ainda mais corrompidos e ineficientes, permeados por lutas internas e combates entre os próprios revolucionários. Entre estes governos, a República Jacobina tomou lugar no momento mais crítico do período revolucionário. Com o apoio dos sans-culottes ("os sem-calça"), trabalhadores majoritariamente urbanos das camadas mais baixas, militantes da extrema-esquerda revolucionária, os jacobinos assumiram o governo da França. Foram os jacobinos os responsáveis pela execução do rei Luís XVI através da guilhotina, em uma execução pública na praça da Revolução, em 21 de janeiro de 1793, ato este que causou rivalidade dos demais governos europeus, o que acarretaria em uma série de hostilidades com as outras nações (um dos fatos que agravou a situação política, diplomática e econômica da França). Danton assumiu o poder da França.


Considerado muito moderado, foi substituído por Robespierre. O "Comitê de Salvação Pública" assumiu plenos poderes, através de Robespierre, dando início ao período conhecido como "Grande Terror", ou "Terror Jacobino", com a execução de milhares de pessoas, incluindo oponentes ideológicos e políticos, cristãos, opositores da Revolução. Podemos incluir célebres nomes entre os executados, entre eles a ex-rainha Maria Antonieta, o químico Antoine Lavoisier (considerado mentor da Química moderna), entre outros clérigos, girondinos (ramo opositor aos jacobinos), e qualquer um que fosse considerado ou presumido inimigo da Revolução Francesa.  


O período de barbárie foi repleto de execuções públicas e julgamentos tendenciosos. As praças eram palco de execuções diárias, para o delírio da população francesa já em tremendo estado de degeneração moral. Foram executadas em torno de mais de 40 mil pessoas. Uma revolta popular contra Robespierre aconteceu, a chamada "Insurreição da Vendéia", uma revolta camponesa, tendo sido esmagada. 


O subsequente congelamento de preços e medidas arbitrárias em relação aos negócios e ao comércio provocaram uma reação por parte da burguesia, que via os enormes entraves à economia com um extremo desgosto e insatisfação a seus próprios planos. Uma parte dos jacobinos, que seguiu Danton, apoiava essa iniciativa de reação da burguesia. Estimulados pelas declarações e medidas cada vez mais impopulares de Robespierre, promoveram uma insurreição, que também foi esmagada, resultando na execução de todos os seus mentores e participantes. Robespierre vence, mas fica politicamente isolado.


Girondinos sobreviventes ao terror articularam um golpe contra Robespierre. Robespierre e seus partidários são depostos, e diante do apelo de Robespierre por "defesa popular", não há resposta, e os próprios sans-culottes lhe dão as costas. Robespierre e seus dirigentes são guilhotinados. A "Comuna de Paris" e o partido jacobino foram extintos. O acontecimento ficou conhecido como "golpe de 9 Termidor", que marcou o retorno da grande burguesia girondina e a queda da jacobina. O movimento popular revolucionário, a partir daí, entra em declínio até se extinguir. Os julgamentos e prisões sumários e os congelamentos de preços, bem como várias outras medidas revolucionárias, foram extintos. A "República do Diretório" surge, com a volta da burguesia ao poder e a anulação de inúmeras medidas revolucionárias. Entretanto, o Diretório se mostra ineficiente perante as políticas públicas e internacionais. Surge, daí, a figura de Napoleão Bonaparte, que mais tarde seria imperador da França.


A Revolução Francesa trouxe importantes conceitos sobre direitos e liberdades individuais, e algumas conquistas à humanidade, como a Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão, e também o conceito de secularismo estatal. Entretanto, pouco efeito prático oriundo de tais ideais foram percebidos antes, durante e depois da Revolução Francesa. O que se observa foi a simples substituição do Cristianismo como religião oficial, dando lugar a dois cultos principais, um estimulado pelo paganismo e ateísmo anti-cristão e outro estimulado por um conceito de divindade universal e moral cívica estatal em torno do partido revolucionário. Houve pouca - e em vários momentos nenhuma - liberdade de expressão, manifestação e realização individual, e os próprios direitos e garantias individuais foram suspensos diversas vezes.


Se anteriormente à Revolução Francesa houve exploração, injustiça e cerceamento de opinião, esse quadro geral de coisas não foi melhorado depois da presença dos revolucionários. Foi, por outro lado, incrementado e reformulado com a roupagem da "racionalidade" e da insurgência popular, o que não criou nada mais do que uma elite partidária e a acensão da burguesia jacobina. A França não experimentou nenhuma "iluminação" ou florescimento durante o período revolucionário, mas sim um enorme banho de sangue, de misticismo travestido de racionalismo e do fanatismo partidário.  A Revolução Francesa arrogou defender as camadas sociais mais baixas, e concedê-las liberdades e direitos individuais. Longe de ser um episódio do qual devamos nos orgulhar, tal revolução deve ser enxergada com os olhos da razão, que ironicamente não existem diante dos defensores fanáticos desse enorme "movimento de Esquerda", ditos defensores da razão. 


Ironicamente, a população pobre sofreu tanto na Revolução e com os ideais iluministas e "libertários", que aplaudiu, acolheu e clamou por Napoleão Bonaparte, um ditador militar que se auto proclamou Imperador. Quando uma revolução do "proletariado" aniquila o próprio proletariado, um ditador megalomaníaco que minimamente trate bem esta população torna-se muito mais agradável e afável. As revoluções "proletárias" estimuladas por injustiças sociais se manifestam através de meios violentos e criam ainda mais injustiças sociais e mortes, onde ironicamente os próprios proletários são as maiores vítimas.

9 comentários:

  1. Não me surpreende. Sempre considerei esse episódio como algo do que não se pode orgulhar. Nunca acreditei nessa chamada Revolução como se fosse um marco de bondade.
    Infelizmente a grande maioria dos povos latinos vivem, ainda hoje, a ilusão de "grandes avanços" que a Revolução Francesa teria proporcionado à humanidade.
    Esse ranço, esse apego ao politicamente correto que se vive na Europa não anglo saxônia é fruto do ideário da Revolução Francesa.
    Os países que não professam como religião esses ideários, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, Canadá e outras importantes nações, encaram a sociedade de forma diferente - são mais vinculados aos ideários da Revolução Inglesa, aliás, revoluções.Por que? Porque aqui não se restringem à Revolução Industrial. Aqui se percebe algo que vai mais longe no tempo.A Revolução Gloriosa.
    O bem-estar da sociedade é presado mas o coletivo é visto como a soma do individual. portanto, quando cada indivíduo se realiza, a coletividade está contemplada!

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    1. Sua observação foi brilhante, meu caro admnatec.

      Tais movimentos culturais negligenciam o indivíduo e suas realizações, criando um coletivo doente e mal sucedido.

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. O episódio francês,mais do que qualquer outro,pode e deve ser chamado de "Revolução". O termo implica toda causa ou levante que acarrete mudanças drásticas e mude um panorama,nesse caso,de uma sociedade. Quesito este,exemplarmente atendido por Robespierre e seus compatriotas...talvez até demais. A Revolução Francesa,com sua anarquia,impérios e restaurações monárquicas,falhou em inúmeros aspectos,porém,como toda revolução burguesa,e com suas oscilações e ideais transbordando para fora da Europa,mudou o aparentemente intocável "status quo",e impediu que a França tivesse o mesmo destino da Rússia,que sem tais levantes,chega ao século XX de uma maneira intocável,praticamente feudal e absolutista,quase que por um acidente da História...

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  3. Ridículo esse tipo de revisionismo histórico direitista apresentado no texto. A Revolução Francesa foi um levante burguês com o apoio do proletariado, houve sim derramamento de sangue, mas isso foi uma opção do próprio povo francês insatisfeito com a ordem vigente que optou por dar a vida e o sangue e ficar a mercê da incerteza do que viver em um regime absolutista cristão. A revolução lançou a humanidade para sempre na era da ciência, razão e da autodeterminação, valores estes que são simplismente incompatíveis com qualquer tipo de "fé" ou "crença". A democracia liberal, o jusnaturalismo, os direitos civis, o florescer da ciência, as revoluções tecnológicas e tantas outras coisas so foram possíveis porque um dia uma revolução eclodiu no coração da maior potência do mundo, a Revolução Francesa foi a evolução natural da própria humanidade. Cuidado com esse olavismo histórico ao escrever textos.

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    1. Olavismo? Em pleno 2013 - data desse post?
      Rennan, nao deixe seu espirito revolucionário cegar-te, pois a verdade nem sempre será de seu agrado :P

      Alias, opiniões existem, e devem ser respeitadas :)

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    2. Cala boca seu ignorante esquerdista. Sabe de nada inocente.

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    3. A França é um antro da besta até os dias de hoje! Graças a esta revolução inspirada pelo capeta!

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  4. Que incrível, sempre gostei de história, estudei muito para passar em uma universidade federal, vários autores debrucei-me, e nunca havia visto um texto tão bem narrado, e que de fato relata a verdade, sempre percebi o endeusamento da revolução francesa, mas que ao fim mesmo depois de tantos livros de história chegava a conclusão semelhante a desse texto. Por isso, sempre preferi a revolução americana. Parabéns pelo excelente trabalho, me ajudou muito. Se puderes falar sobre a noite de São Bartolomeu, creio que está já totalmente ligada a esse período de trevas.

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