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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Egito: caldeirão fervente

O presidente deposto, Mohamed Morsi.


O Egito tem sido palco de constantes revoltas, crises internas, crises governamentais e tensões populares. Os impasses são gerados por instabilidades na frágil democracia egípcia, e o confronto entre os membros da Irmandade Muçulmana que apóiam o presidente deposto Mohamed Morsi e o governo militar instalado no país. A onda mais recente de manifestações têm apresentado uma violência mais extrema, isso em resposta aos ataques iniciados por militares a locais de reunião de membros pró Mohamed Morsy. Entretanto, a Irmandade Muçulmana tem agido com violência desde o início dos protestos, o que acarretou medidas mais severas por parte do exército egípcio.



A crise egípcia representa um terrível desbalanço para a continuamente instável região do Oriente Médio. Anteriormente aliada aos EUA, oferecia um palco de estabilidade na região. Com a onda da "Primavera Árabe", Mohamed foi eleito, sendo considerado o quinto presidente egípcio e o primeiro democraticamente eleito (chegando a ser considerado o primeiro chefe de Estado egípcio democraticamente eleito em toda a história do país). Seus antecessores também foram eleitos através de processos democráticos, entretanto, não são considerados legitimamente eleitos pelas inúmeras fraudes encontradas em seus processos eleitorais. 


Mohamed também é considerado o primeiro a assumir seu cargo apenas depois das eleições, diferentemente dos antecessores que assumiram suas funções antes mesmo do fim dos processos, seja por meios "revolucionários" como Nasser, por exemplo, ou como sucessores apontados, como Sadat e Mubarak. 


Mohamed Morsi é membro e presidente do Partido Liberdade e Justiça (Freedom And Justice Party), o partido mais popular do país, diretamente orquestrado pela Irmandade Muçulmana (por isso mesmo esta irmandade representa a maior organização contra o atual governo militar e pró-Mohamed). Após as manifestações de 30 de junho de 2012, ele venceu as eleições presidenciais. Para os muçulmanos, a eleição de Mohamed marca o fim de uma série de presidentes pró EUA e o início de um governo genuinamente egípcio. Entretanto, apoiado pela Irmandade Muçulmana, o governo de Morsi representa um regime secularista a menos no Oriente Médio, o que pode servir de apoio e base para movimentos extremistas em outros países, como é o caso do que tem acontecido na Síria (onde os rebeldes tem sido satisfatoriamente repelidos). 


Se por um lado um regime altamente islâmico agrada a maioria egípcia e responde aos anseios de representação do povo, tal regime pode também fomentar, financiar ou apoiar grupos extremistas que derrubam governos e instalam califados islâmicos. Ironicamente, apesar desse fato e desse ponto anti-EUA, o presidente norte americano Barack Obama apoiou Morsi e também financiou a Irmandade Muçulmana com armamentos militares pesados.


A deposição de Morsi deu-se em Julho deste ano. Considerado o atendimento de um "pedido popular", e não um golpe de Estado, as forças militares egípcias agiram como que respondendo a um apelo popular. De fato, a ação militar foi amplamente aceita por grande parte da população egípcia, e nos primeiros instantes não houveram reações violentas consideráveis, até o presente momento. Isso coloca em dúvida tanto a legitimidade de Morsi, quanto a legitimidade da intervenção militar, já que ambas contam com grande apoio popular, o que parece ter criado não apenas uma revolta popular contra o governo atual, mas uma cisão na própria população egípcia, o que poderia ser considerado como um conflito de "três frentes": os militares, seus apoiadores civis e seus opositores.


Demonstrações em massa dividem-se entre apoiadores e opositores de Morsi, apoiadores e opositores dos militares e apoiadores e opositores às manifestações populares. Longe de ser um mero conflito dualista, a crise egípcia atual mostra a fragilidade da centralidade de um governo que rompeu com uma linha extensa de uma ordem governamental, a enorme variação de vertentes políticas e partidárias no Egito e um quadro popular que não pode ser majoritariamente definido a favor de um ou de outro grupo, criando uma espécie de "equilíbrio" letal, onde nenhuma das forças realmente se sobrepõe, estendo assim o conflito e a crise.


As alegações principais por parte do exército egípcio perante a deposição de Mohamed Morsi foram as contestações de que ele não enfrentou nenhuma medida legal para que sua posse fosse dada como válida, em outras palavras, colocando a eleição como fraudulenta e ilegal. Outra alegação foi o clamor popular por uma intervenção que depusesse Mohamed, sendo as forças armadas obrigadas a cumprirem seu papel constitucional previsto.


Manifestante chora próximo a corpos de militantes pró-Mohamed. (foto da CNN)


Os conflitos se tornam cada vez mais violentos, e os choques entre oposição e apoio são cada vez mais letais. Foi aprovado o uso de munição letal e da execução de manifestantes que iniciarem quaisquer atos violentos e ataques à guarnições e membros das forças de segurança, medida que cria ainda mais tensão no país. A comunidade internacional demonstra um misto de desinteresse e de neutralidade em relação ao caso egípcio, se mostrando mais interessada nos casos de leis russas contra o ativismo homossexual, mostrando mais uma vez que seus interesses globalistas progressistas são resumidos tão somente a suas agendas "humanistas", não demonstrando qualquer importância com crises reais e eventos com grande número de mortos. 


O próprio governo Obama é cúmplice do que tem acontecido, por armar a Irmandade Muçulmana, fomentando e incentivando assim estas crises governamentais e estes conflitos civis, além de invasões e desestabilizações em outros países, como a Síria, onde Obama armou o Exército Sírio Livre (Free Syrian Army), coalizão de movimentos armados formada por mercenários, criminosos sírios e invasores estrangeiros (cidadãos norte-americanos foram encontrados entre os combatentes). Assim, Obama demonstra que não só foi incapaz de cumprir sua promessa eleitoral apresentando uma agenda de retirada da política belicista norte-americana, deflagrando e apoiando mais revoltas sangrentas, como ele mesmo colaborou direta e indiretamente para o agravamento da instabilidade no Oriente Médio, dando suporte a movimentos extremistas (mais especificamente a Irmandade Muçulmana).


 A crise egípcia não se restringe ao país. Os acontecimentos e o decorrer dos fatos no país terão reflexos diretos e indiretos nas nações ao redor e no próprio Ocidente. Portanto, uma maior atenção à crise atual pode permitir delinear os traços de políticas internacionais e até mesmo anteceder os fatos futuros que podem ocorrer no país, já que qualquer governo incentivado e apoiado pela Irmandade Muçulmana representa um sério risco aos países próximos e à liberdade de outros religiosos, como os cristãos por exemplo, já que os governos promovidos por tal instituição valorizam o seguimento da lei religiosa muçulmana Sharia.


O Oriente Médio se mostra mais uma vez uma região instável, desordenada e barbárica. Seja por governos extremistas que impõe a Sharia, seja por governos militares lacaios de outras potências, a soberania e a integridade desses países dificilmente é mantida, e suas frágeis instituições são facilmente removíveis e alteradas, impedindo a consolidação de governos legítimos e duradouros. Esse quadro dificilmente mudará nas próximas décadas, pois é algo culturalmente intrínseco aos povos da região, por fatores religiosos e tribais, conflitos milenares resultados das fragmentações dentro do próprio Islamismo e de sua visão radical em relação ao restante do mundo. 


Democracias nunca foram satisfatoriamente sucedidas nos países de maioria islâmica. Os períodos de maior estabilidade e paz foram justamente os períodos de governos rígidos e impositivos. A democracia, nos países da região, não trouxe paz ou estabilidade. De outro modo, fomentaram ainda mais as diferenças tribais e os conflitos violentos e a consequente instabilidade nesses países. A alta aprovação por governos que defendem a Sharia, por exemplo, uma lei religiosa extremamente rígida, demonstra o quanto os próprios povos da região, mesmo dentro de uma democracia, lutam  por regimes autoritários e extremos. As revoltas no Egito não devem ter origem no ataque à democracia em si, e sim, na derrubada de um membro da Irmandade Muçulmana.

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