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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O homem imortal

O "homem imortal" perde sua essência e a capacidade de enxergar o benefício em suas limitações. É um buscador compulsivo de uma apoteose individual e um eterno competidor, cuja vida se resume a superar a si mesmo e aos outros, quando não é capaz de superar o próprio ego.



Da desilusão humana consigo e com Deus, no abandono constante da religião, da espiritualidade e da crença no divino, houve também o surgimento de uma busca egoica humana como um fruto de insatisfação à condição natural de limitação humana. Diante das inúmeras limitações intrinsecamente ligadas à própria composição biológica e mental do homem, o indivíduo que deseja a "imortalidade" torna-se extremamente envaidecido, e obviamente, fraco.



Diante das fraquezas humanas, cria-se uma "hiper força" do ego e da crença em uma "imortalidade" individual. A cultura da auto-"cultuação" atinge patamares inimagináveis, criando seres arrogantes em si mesmos e arrogantes em relação aos outros. Esse enaltecimento pessoal, essa visão egoica de si mesmo nada mais é do que a resposta virtual e imaginária diante de fatos concretos, naturais e palpáveis. Como não podemos meramente adulterar a origem e a natureza das coisas, usamos nossa imaginação e interpretação pessoal para desfigurar a realidade e moldá-la ao nosso bel prazer.


Em um primeiro instante, isso pode ser confundido com auto confiança e auto estima, e com a capacidade de superar problemas e capítulos ruins da vida. Entretanto, trata-se tão somente da busca por uma auto afirmação constante, uma negação dos defeitos próprios e a superestimação das próprias qualidades ou a simples invenção artificial das mesmas. Ao mesmo tempo em que o homem moderno se nega a compreender e aceitar sua condição natural, ele cria uma artificialidade pouco produtiva. Esse "homem imortal" é incapaz de "morrer" diariamente para si mesmo e enxergar sua pequenez diante do Universo. E como ele não morre, seu ego também não falece. Aliás, sua morte diária dá-se pelo assassinato que seu ego comete contra si.


Os indivíduos desejam exaltação diante de suas qualidades, leniência diante de seus defeitos, falhas e erros, e superestimação diante de suas realizações. Esse "homem imortal" pós-moderno é incapaz de sentir empatia, incapaz de exercer a auto-crítica e incapaz de rever seus próprios atos. Ele, ao mesmo tempo em que sente-se confortável em julgar a vida e os atos alheios, defende-se do julgamento ou da crítica social argumentando que "ninguém é perfeito", e por conta dessa imperfeição nata ao ser humano, ninguém possui o direito de tecer críticas ou julgamentos a quem quer que seja, pois isso é um meio de ser hipócrita. Negando sua natureza quando conveniente e usando-a ao mesmo tempo em que acha necessário, como recurso de defesa, o "homem imortal" torna-se um monstro bizarro.



A mortalidade é justamente o que nos torna humanos. É o triste fim dessa vida terrena, mas não o fim de todas as coisas. Entendemos a finitude de nossas vidas, e através disso, compreendemos a necessidade de analisarmos nossos atos, aprendermos com nosso passado, agirmos melhor no presente para construir um futuro mais digno. É justamente a mortalidade do homem que exige dele uma visão mais humana da vida, ciente de suas limitações e incapacidades, mas consciente de seus potenciais e dos patamares que pode alcançar. A imortalidade, nessa vida, seria o pior dos males ao ser humano. Limitado, finito e mortal, o ser humano exerce uma extrema arrogância e soberba. Se não possuíssemos essas limitações, provavelmente seríamos muito piores, já que a infinidade da nossa vida não nos exigiria pensar em nossos atos e palavras e nas consequências dos mesmos.


Ao mesmo tempo em que esse "homem imortal" - cultuador de seu próprio ego e de sua própria persona - não demonstra confiança, crença ou mesmo preocupação em torno de uma divindade suprema, procura, ironicamente, atingir em sua vida um momento de apoteose particular, de hiper ascensão e de uma ultra realização materialista em torno de si, como por exemplo, o episódio de uma extrema presença de "sorte" onde ele consiga tornar-se imensamente rico financeiramente, ou ovacionado pelas multidões. E, para o "homem imortal", os fins justificam os meios. Ele deseja conseguir isso a qualquer preço. Por isso mesmo, ao mesmo tempo em que ele é tão egoico em torno de si e tão arrogante, não hesita em se submeter ao ridículo, ao vexatório e humilhante desde que isso represente alguma exposição midiática ou a chance de conquistar uma grande fortuna.


Essa busca pela apoteose individual descreve o "homem imortal" em sua vivência: vazio de um significado para toda a vida, ele busca apenas um instante de ascensão. Apenas um momento para mudar toda a sua vida, como todo um destino drasticamente alterado por um único evento, não natural, não "real", mas artificialmente criado, virtualmente forjado. Essa apoteose e sua busca representam não o resultado de atos heroicos, como a apoteose de Hércules após realizar os 12 trabalhos, ou a mítica apoteose francesa atribuída a Napoleão Bonaparte depois de seus feitos militares, mas sim o vazio de uma vida desprovida de eventos significantes. 




O caráter extremamente arrogante cria nessas pessoas uma acidez negativa, que corrói suas relações interpessoais, sobrevivendo, logicamente, apenas aquelas construídas com pessoas semelhantes, outros "homens imortais" igualmente insuportáveis. Tais pessoas também são incapazes de apreciarem a beleza na simplicidade e a poesia nos atos mínimos da vida, da cultura humana e da Natureza, criando momentos artificias de euforia e efusividade, facilmente confundidos com "momentos felizes".


Pior do que um homem limitado, é o homem que não exerce limites sobre si mesmo. Nossa cultura atual prega continuamente a eterna ascensão, a eterna busca por mais e pela superação de si mesmo e dos demais são uma ode à "imortalidade humana", à negação de nossos entraves naturais e a supervalorização dos nossos seres. Ser um homem mortal e consciente de suas limitações não significa ser um mero conformista, mas significa entender que parte de sua essência, e parte do que o torna especial, são justamente os limites e bloqueios humanos intrínsecos à nossa essência.


Não devemos nos preocupar em sermos tão incríveis, tão espetaculares ou tão inalcançáveis. Buscar nossos objetivos, realizar nossos sonhos e acreditar em patamares maiores são sim qualidades que devemos nutrir. Mas essa felicidade não é mais importante do que simplesmente fazer o que é correto. Nunca foi tão necessário ser um mero mortal limitado quanto em nossa presente época, onde o ser humano é colocado como máquina competitiva em busca de sua apoteose mítica. 

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