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quarta-feira, 19 de junho de 2013

O conceito do neo-patriota e sua aplicação moderna

O verdadeiro patriotismo não é um mero sentimento ou uma emoção apaixonada. É um sentimento nobre de amor, racionalmente embasado, profundamente enraizado pelas virtudes morais advindas da elevação pessoal e coletiva.


A identidade de um povo é construída através de um processo histórico, em uma sucessão de eventos cuja velocidade varia de acordo com a cultura, o contexto e o modelo sócio-político e a maneira como se conduz a economia. O espírito nacionalista advém do apreço pelo território, pela cultura nacional, pelos elementos que identificam os pontos em comum entre todos os cidadãos e pelo orgulho do próprio ato de ter nascido naquele território. Todos estes fatores compõe, mantém e fortalecem os laços comuns entre os cidadãos, que reunidos sob um governo em comum, constroem a identidade nacional e patriótica. 



Existem pontos, entretanto, que são intrínsecos para a formação de um patriotismo e um sentimento nacionalista saudáveis. A valorização da cultura, - não a cultura e a arte pós-moderna abstrata, vazia de significado e completamente subjetiva, e sim aquela que é perceptiva, significante e transmite a beleza e a elevação através de seus meios - especialmente das artes, da música e da literatura, é essencial para a paixão aos elementos e ícones nacionais. Mesmo que estes ícones tenham influência em elementos estrangeiros, permeá-los de valores e elementos nacionais é suficiente para a criação dessa elevação patriótica.


O conhecimento da História do país, tanto nos eventos nacionais quanto da complexidade estrutural da própria sociedade, o início do país, as fundações políticas, culturais e sociais, são mais do que obrigatórias e extremamente essenciais a todos os cidadãos. Tais conhecimentos estão longe de serem exclusividade ou uma função social da elite intelectual e dominante no país, pois não se trata de um ato que demanda ou exige condições financeiras elevadas.


Apreciar a arte, amar a literatura, dedicar-se aos estudos e à alta-cultura não são atividades da burguesia, como a ideologia da luta de classes impregnou na mente da população. Na verdade, o pós-modernismo surgiu não tanto como um fator inclusivo para as pessoas, mas sim uma abstração e uma bizarra amorfização   das artes, no sentido  de torná-las intangíveis para a maioria das pessoas, deturpando e destruindo os conceitos de beleza e elevação. Quando a própria arte é vazia de significado e destruída de seu propósito, ela perde sua razão de ser. A destruição da elevação das artes não inclui as pessoas mais simples, ela exatamente tira o único fator que as atrai: o entendimento delas e a busca pela beleza em si.


A destruição da literatura também visa, através do progressismo marxista, retirar o significado objetivo da compreensão histórica e cultural tanto da identidade nacional, quanto da identidade do sujeito. As principais obras consistem em replicações e adaptações do conceito da guerra de classes, prateleiras invadidas pela simples auto ajuda (não o conceito real do tema e sim o conceito atacadista do termo), a principal função da leitura torna-se o conhecimento e reprodução do superficial, banal e escandaloso. Criam-se indivíduos informados, mas nada instruídos.


A própria desvalorização do ensino, e a falta de crédito e importância social dada aos estudos contribuem para a perpetuação de gerações amorfas e ignorantes, visando o caminho mais fácil e o menor esforço. A qualidade tanto do ensino quanto dos alunos decai progressivamente, demonstrando que os métodos sócio-construtivistas e as abstrações acadêmicas tomaram o espaço da simples função instrutiva e didática do ensino, desconstruindo a figura do professor como um agente informador, colocando-o como um doutrinador raso. A relação de aprendizado do aluno e de maestria do professor é trocada por uma subjetividade onde perde-se essa hierarquia, que resulta não somente na burrice dos alunos, mas no próprio desrespeito físico aos professores, vistos como um entrave aos anseios de comodidade dos alunos.


O conceito familiar deturpado gera núcleos familiares fracos, impotentes e incapazes de fornecer sólidos valores aos filhos, valores sólidos estes que são os primeiros pilares de um patriotismo e um sentimento individual forte e saudável. Quando os pais tentam transmitir valores aos filhos, estes já receberam inúmeros conceitos do Estado, dos professores doutrinários e dos amigos igualmente manipulados, de modo que já não são mais folhas em branco prontas a serem educadas pelos pais, que ao invés de educadores e formadores do indivíduo se tornam meros reparadores ou cúmplices de erros terceirizados. No momento em que o pai tenta demonstrar ao filho que roubar algo é errado, ele já aprendeu do Estado que isso é justificável se ele tiver uma condição inferior; aprendeu dos professores que isso é correto para uma "reparação histórica" e dos amigos, que lhe transmitem a ideia de aventura e emoção, traço de esperteza ao conseguir algo ilicitamente. O pai se torna último agente a transmitir um juízo de valor sobre algo, quando deveria ser o primeiro ou um dos primeiros a transmiti-lo.


O verdadeiro patriota não é apolítico. Ele pode ser apartidário, mas jamais apartidário e apolítico ao mesmo tempo. Ele deve ter conjuntos sólidos e valores firmes relativos à política, sociedade, filosofia, espiritualidade e economia, bem como todos os demais campos do conhecimento. Ele não precisa ser completo e perfeito, apenas firme e possuidor de um Norte através do qual ele se orienta, evitando distorções e desfigurações do Estado corrompido, do professor doutrinário e das amizades perversas. Sendo politizado e tendo uma visão clara, ele evita o esvaziamento que poderia ser preenchido por ideias momentâneas, superficiais e improdutivas, fruto da emotividade rasa.


O novo patriota, ou neo-patriota, não possui conhecimento histórico das fundações de seu país (exceto a rasa visão passada e transmitida pelos doutrinadores estatais), não possui apreço pela alta cultura; - tanto nas artes (faladas, escritas, pintadas, esculpidas, cantadas, etc), sendo incapaz de admirá-las e persegui-las em desejo de conhecimento, como também no desprezo pela leitura aprofundada e pelo conhecimento complexo - não possui filosofia política sólida (possuindo um estranho orgulho de se auto declarar neutro, ou "apolítico/apartidário"), tratando o tema de modo superficial; não possui estruturas familiares sólidas e não possui um orgulho real pelos elementos nacionais que dão um sentido coletivo e um espírito de pertencimento a algo maior.


O novo patriota é imbuído da luta de classes, do ressentimento histórico e da sensação de vitimização contínua, enxerga-se como vítima de um sistema opressor. Quando de fato existe um governo corrupto, ele é tão somente capaz de se indignar, e na melhor das hipóteses, reagir com emoção e paixão contra este sistema corrupto. Entretanto, como ele não é politizado, instruído ou solidificado enquanto indivíduo, carrega-se com a turba insatisfeita, arrogando lutar contra um inimigo ao qual ele genericamente chama de "governo", como se poder e governo fossem conceitos abstratos. Tão logo um novo líder ou um novo partido prometam solucionar e atender estas demandas, ele logo se esvai de sua raiva e se enche de esperança futurista, entregando novamente as esperanças em uma nova coligação que fez as mesmas promessas e tem a mesma ideologia dos anteriores.


Ele não é movido por um amor profundo, verdadeiro e embasado pelo seu país. Até mesmo por que é impossível amar efetivamente aquilo que não conhecemos ou não nos dedicamos enquanto indivíduos. É movido por sentimentos passageiros. O novo patriota identifica-se por eventos ocasionais, periódicos e pré-estabelecidos, e não por um sentimento fluído, contínuo e permanente. O patriotismo do neo-patriota é algo momentâneo e explosivo, como uma paixão: intensa, mas pouco duradoura. Não é como um verdadeiro amor, que pode ser uma chama menor, mas contínua e sempre iluminando.


O novo patriota não serve aos propósitos da construção de uma nação forte e edificada, de estruturas confiáveis e sólidas, nem de elementos produtivos elevados. Ele serve aos propósitos políticos de articuladores e teóricos políticos, onde sua paixão momentânea entra perfeitamente. O patriota autêntico é capaz tanto de manter a permanência fluída de um corpo nacional, um governo funcional e uma estrutura válida de modo tranquilo e sereno, quanto de resistir e reagir a um governo corrupto e uma estrutura falida. Como ele verdadeiramente ama seu país, suas ações não serão meras reações emotivas, e sim atitudes pensadas e racionais, por que tem raízes profundas nos seus próprios estudos. O neo-patriota servirá para gritos e barulhos momentâneos, e no máximo, para uma troca de um governo corrupto para outro, já que ele não vê problema em ideologias, e sim em meros indivíduos, validando alguém da mesma linha do governo anterior.


O pensamento moderno demonizou o verdadeiro patriota, aquele que valoriza a elevação pessoal, como um "burguês", um elitista, um reacionário que odeia as classes pobres e odeia o país. Transmitiram a imagem ideal de alguém nacionalista, como um sujeito apático, amante da bandeira partidária, capaz de relevar a imoralidade por conta de benesses recebidas, e que mesmo se rebelando, perpetrará um outro tirano no poder. A aplicação moderna desse indivíduo consiste em utilizá-lo como uma ferramenta política, ao mesmo tempo em que ele é privado de suas verdadeiras identidades nacionais, sendo a revolta e a indignação coletiva e os eventos periódicos seus únicos sentimentos de pertencimento coletivo.

2 comentários:

  1. Esse texto me faz lembrar no tempo que eu estudava, no ensino médio; onde os professores(maioria) acreditam que a função deles antes de ensinar, eles devem formar cidadãos, vocês já sabem que que molde. Eu sempre batia de frente, e a classe(puff),só se interessavam porque era menos tempo de ensino, e "mas de conversa". Lamentável isso, sabendo que os pais entregam seus filhos ao matadouro todos os dias. Por isso procuro aprender por contra própria justamente para dar educação de verdade ao meus filhos; desde a matérias escolares, ha boa e velha moral cristâ.

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    1. O Estado sabe da importância da doutrinação dos primeiros anos, da educação na primeira infância e de como as crianças são influenciáveis. Por isso mesmo o aparelho estatal enseja inserir as crianças cada vez mais cedo nas escolas públicas, ao mesmo tempo em que retira o foco e a liberdade autônoma da educação dos pais.

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